"Que a estrada se abra a sua frente,

Que o sol brilhe morno sobre sua cabeça;

Que a chuva caia de mansinho sobre seu corpo;

Que o vento sopre leve em sua face;

E até que nos encontremos novamente;

Que os Deuses te guardem na palma de suas mãos..."

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

   


Sempre fui apaixonada pela nossa casinha de Cabo Frio, uma casinha simples, com muitos consertos e obras a serem feitas, mas quando chego lá, a casa, o lugar, a paisagem, tudo me energiza, tudo me dá paz, é impressionante o poder que existe naquele lugar, não sei explicar direito o que acontece comigo...
O texto abaixo foi escrito pela minha maninha Lucia e toda vez que leio fico emocionada. 

Visões Diferentes
Lucia Mourão

Maricá, 23.11.2001

Uma casinha simples mas com uma fantástica paisagem nos fundos para a Praia do Peró-Dunas, em Cabo Frio. Eu curtia as tardes de fim-de-semana na rede, cuidava da louça, coisinhas de arrumar casa e lavar banheiro. A maninha Lia com seu namorado e depois marido foi construindo sofás, fazendo almofadas, pintando e sonhando, planejando obras de ampliação, varandão nos fundos para os baralhos da tarde e regozijo da paisagem. Durante algum tempo usei a casa apenas para dormir nos fins de semana, sem tempo até para varrer, e muito menos para sonhar. Para mim o sono restaurador, para ela o sonho idealizador.

Mais tarde, por obra do destino, que modifica os nossos caminhos e leva a nossa vida, assim, de roldão, passamos 14 anos sem por lá aparecer.

Agora, pretendendo consertar a casa, minha mãe resolveu lá voltar para engrenar um orçamento, com a maninha para ajudar. Os sonhos que habitavam no subconsciente, mantidos no fundinho, apesar da separação do marido, ainda persistiam numa expectativa de realização das obras para as tardes ensolaradas no varandão. Mas o quadro que se apresentou foi imprevisivelmente desolador. A casa infestada por cupins e invadida por marimbondos era a imagem da decadência, com o telhado caindo em várias partes, o encanamento roubado, a cisterna rachada e a casa roubada em tudo que tivesse algum préstimo, sem contar o muro construído pelo vizinho, cobrindo toda a vastidão do panorama. Maninha ficou desarmada, desolada. Os sonhos, tão silenciosamente acalentados, de repente, diante de tão cruel realidade, se esvoaçaram ao sabor do vento sudoeste. Uma desilusão muito grande ao constatar que o tempo é implacável e não volta mais. As tardes ensolaradas no varandão continuariam apenas nos sonhos. O quadro foi pintado em negro.

Minha mãe, que sempre busca e costuma encontrar uma luz no final do túnel escuro, observou com adorável percepção, que o hibisco plantado pelo mano Sérgio há mais de 15 anos, pegou, cresceu e estava verdinho, o que dava gosto de ver. Passou.

Meses depois, uma amiga da maninha sabendo da existência de uma casa, um teto que fosse, naquele paraíso que é Cabo Frio, fez de tudo para conhecer o lugar. E lá foram elas. E o quadro era o mesmo. Só que agora maninha estava acompanhada da formiguinha empreendedora, a Dalva. E eis que a tinta adquiriu outra tonalidade. Ela disse que bastava começar com uma faxina. Um amigo, também presente, pronto para pegar no batente, olhou uma das portas e elogiou a perfeição do ajuste. É... Tem solução. Vamos fazer um mutirão! Aí o quadro, que era o mesmo de meses atrás, de repente, ficou verdinho, verdinho de esperança.


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